Começo pelo final: a recuperação será mais cedo!
A crise da Covid-19 é uma situação nova, completamente distinta das crises anteriores. Se em 2008 o problema era perceptível - a falta de liquidez nos mercados - hoje o problema é algo invisível que não sabemos onde está, que nos obrigou a fechar os negócios por completo, fosse qual fosse a nossa industria. Não sabemos se a pessoa à nossa frente tem, teve, ou se até nós já tivemos o vírus, e não sabemos quando vai terminar. A esta falta de informação, junta-se a preocupação natural do dia-a-dia, e acresce a dificuldade em focar-nos no essencial. Continuamos (ou passamos) a olhar para a árvore em vez da floresta. E é também nestas alturas de crise que as empresas, sejam elas quais forem, começam a aperceber-se dos problemas estruturais que têm.
No seu (menos) famoso livro “The Real Life MBA”, o considerado gestor do século, Jack Welch (falecido a 1 de Março deste ano, mas em Portugal ninguém se apercebeu…), destacava como fundamental para qualquer antecipação - ou recuperação - o planeamento estratégico, defendendo ao mesmo tempo que a forma tradicional de o delinear estava “morta”. A burocracia e obrigação de estarmos sujeitos a processos pesados e inflexíveis, segundo ele, não estavam alinhados com a velocidade dos mercados. Eu acrescento, nem estavam alinhados com a velocidade com que um vírus como este pode afetar (e afetou) os mercados. Welch propôs uma nova forma de planear processos estratégicos mais flexíveis e rápidos, que promovessem a agilidade. “Porque ser ágil realmente importa”. Em vez de cultivar essa agilidade e o planeamento estratégico a cada semestre, Welch propôs que esse planeamento estivesse semanalmente. Sim, semanalmente! Mais do que isso era estar a fazer futurologia (palavras minhas).
Transportemos a ideia de Welch para a crise atual. O que é que realmente precisamos para nos prepararmos para a recuperação, e também anteciparmos a próxima crise? Mudança. Uma mudança completa no mind-set e na criação da estratégia da empresa. Para isso, devemos estar atentos a todas as informações que circulam à nossa volta, mas também as devemos escolher e filtrar. Em vez de o foco ser em informações demasiado teóricas e confusas dos grandes estudos e intermináveis sessões de debate, propomos que o foco seja nas informações práticas e pragmáticas, que vêm de todos os nossos stakeholders (colaboradores, clientes, accionistas, governantes).
Aquelas informações são as que se obtêm por via dos que estão no terreno todos os dias; das súbitas alterações de comportamentos sociais que acontecem em plena crise (há Sol? Os Britânicos vão para as praias! Deixam-nos sair? Os Espanhóis vão para a rua em grupo! Podemos viajar? Os Holandeses apanham o avião para a Madeira!); ou aquelas que ouvimos e lemos nos discursos de quem nos tutela. Na prática, este novo paradigma diz-nos que temos de estar mais atentos ao que nos diz o nosso colega do Comercial, que foi a uma feira internacional e ouviu um “zum zum” sobre como uma Super-Mega Operadora Turística estava em dificuldades. E diz-nos que devemos estar mais atentos ao ler a notícia de que o Ministro das Finanças de Portugal, no dia 23 de Março, disse que “Portugal poderá estar de regresso à normalidade a partir de Junho” e que via “normalidade no terceiro trimestre”. Temos de mudar a forma de ouvir, ver e consumir informação. Temos de passar a ler nas entrelinhas.
A Covid-19 vem obrigar as empresas a recuperar o tempo perdido; a abraçarem uma nova forma de pensar o futuro, agora! - porque pensar o futuro, agora! é planeamento estratégico efetivo. A crise foi mais rápida que nós, mas a chegada da recuperação também terá de o ser? Apenas seremos apanhados de surpresa, ou chegaremos demasiado tarde, se não formos ágeis. Porque o regresso à normalidade será mais cedo do que muitos estão a pensar. E só quem já estiver a pensar dessa forma, e a delinear a estratégia adequada, terá a vantagem competitiva para Vencer*!
*Vencer, o famoso livro de gestão e bestseller mundial da autoria de Jack Welch.
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